Segundo CROCHIK, o individuo é fruto da cultura. Portanto, em seu processo de socialização, o indivíduo, desde que nasce e é inserido nas diversas agencias de sociabilidade, é impelido a incorporar estereótipos produzidos e fomentados pela cultura cujo objetivo é manter a divisão de trabalho.
O preconceito, que não é inato e que tem como um de seus elementos o estereotipo, é uma ilusão que pode ser adquirida antes de qualquer experiência tida pelo individuo como mecanismo de defesa. Além disso, independe das características do objeto e diz mais respeito às necessidades do preconceituoso do que às características do objeto.
Como produtos culturais, os estereótipos, são preconceitos que fazem parte da ideologia e que, por vezes fornecidos pela ciência, servem como justificativa para a dominação de determinadas classes sociais sobre outra, além disso, a que se dá sobre a própria natureza.
Dessa forma, a ideologia encobre uma dominação desnecessária para a autoconservação da humanidade. Essa dominação, contrapõe-se a uma consciência crítica que denuncia a cisão entre a forma pela qual os homens se organizam e suas necessidades. Além disso, oculta e dissimula as divisões sociais e políticas, dá-lhes a aparência de indivisão e de diferenças naturais entre os seres humanos. Ou seja, a ciência auxilia no controle do individuo.
A cultura, portanto, como não pode se perpetuar sem a adesão dos indivíduos, se impõe de diversas formas a ele. Para isso, trabalha na formação do supereu introjetando ,inconscientemente por meio de desejos e fantasias, valores e ideais paternos. Operando-se assim, uma transformação na forma de conduta individual levando o individuo a assumir, como seus, valores que são de outrem.
Sendo assim, a ideologia nos dá a ilusão de estarmos pensando e agindo de forma racional e livre, de acordo com nosso entendimento e nossa liberdade, porque desconhecemos esse poder invisível que nos força a pensar e a agir de acordo com a cultura.
A razão pode ser um poderoso instrumento de dissimulação da realidade e de produção de ilusões pelas quais uma parte do gênero humano se deixa oprimir pela outra.
Outro termo que pode ser utilizado para nomear o estereotipo é o de preconceitos culturais. Fornecidos por vezes pela ciência, fazem parte da ideologia, cujo conceito, embora seja amplo e polêmico, para o nosso intento pode ser concebido como a justificativa para a dominação. Nessa definição, intencionalmente particularizada, inclui-se a dominação de determinadas classes sociais sobre outras, isto é, tal como pode ser derivada da teoria marxiana. Mas pretende-se ir além, abrangendo toda a dominação, incluindo a que se dá sobre a própria natureza. Desta forma, ideologia é para nós a tentativa de se justificar qualquer forma de dominação (CROCHIK, 1995, p. 22)
Conforme o autor, o preconceito, oriundo da esfera cultural expresso na ideologia, é a justificativa da dominação sobre o individuo em diversas figuras: a ciência, a religião, a filosofia, etc. que conforma o individuo à cultura.
Diante disso, a ideologia, expressa nas diversas figuras, bloqueia nosso conhecimento porque apenas reproduz nossa realidade, mas dando a ela aspectos sedutores, cheios de sonhos que já parecem reais e que servem para o aperfeiçoamento do mundo existente e não para a sua alteração. É um imaginário de explicações que justificam o mundo do jeito que parece ser. Dessa forma, a possibilidade de o homem influenciar o seu destino é negada. Com isso, ele deve se adaptar a sociedade existente.
O preconceito, em geral, é avesso à subjetividade. Ele julga não só falar em seu nome, mas no de uma coletividade com a qual se confunde. Além disso, é incutido nos homens, os quais são impelidos e se impedem de pensar por si próprios, sustentando assim o despotismo.
Apesar da divisão social das classes, somos levados a acreditar que todos são iguais porque participamos da ideia de “humano”, de “pátria”, de “nação” ou de “raça” e de várias outras. O que caracteriza uns e outros são elementos culturais que não expressam a diversidade com universalidade, e sim uma hierarquia do fraco e do forte, do bem e do mal-adaptado, do pior e do melhor.
A classificação que estamos acostumados a fazer com os objetos é extrapolada para as pessoas. Quando a cultura faz esse tipo de distinção, caracteriza as pessoas como coisas a serem manipuladas.
Devido a reação primitiva, da cultura e do individuo, às ameaças reais ou imaginarias, a cultura, além de engendrar o preconceito no individuo, cria os seus próprios e os indivíduos os introjetam.
Diante disso, a ciência não esta isenta dos mecanismos formais do preconceituoso já que é repetição, aprimorada como regularidade observada e conservada em estereótipos. Com seu triunfo, as manifestações humanas tornam ao mesmo tempo controláveis e compulsiva.
A ideologia assegura a todos, modos de entender a realidade e de se comportar diante dela, eliminando dúvidas, ansiedades, angústias, admirações, ocultando as contradições da vida social, bem como as contradições entre esta e as idéias que supostamente a explicam e controlam.
A razão pode ser um poderoso instrumento de dissimulação da realidade a serviço da exploração e da dominação dos homens sobre seus semelhantes. Dessa forma, a razão, nesse processo, esta presente não para avaliar, e sim para justificar aquilo que se incorporou não pela verdade que possa conter, mas pela necessidade de manter tais ideais e valores.
A classificação que estamos acostumados a fazer com os objetos é extrapolada para as pessoas e isso é possível quando são consideradas como coisas a serem manipuladas. O que pode ser desejável no domínio das coisas é reitificador no reino humano. Mas isso nos faz pensar que a ciências sociais e humanas, quando se valem dos mesmos métodos que as ciências da natureza, não se utilizam de um mecanismo distinto do preconceituoso; como o seu objeto é tratado de forma similar aos outros, esse deve ser adaptar ás grandes categorias para ele preparadas. Neste processo, não deixa de haver a predominância do olhar do sujeito sobre o seu objeto, da mesma forma que no preconceito. Essa afirmação, contudo, é menos uma critica a utilização de modelos experimentais próprios às ciências naturais, e mais uma constatação de que, se isso é feito, é também porque o homem se reduziu a um ser natural. Nem por isso, no entanto, a ciência deve deixar de ser criticada. Ela própria não é necessariamente isenta dos mecanismos formais dos preconceitos: “ A ciência é repetição, aprimorada como regularidade observada e conservada em estereótipos... Com seu triunfo, as manifestações humanas tornam-se ao mesmo tempo controláveis e compulsivas. Da assimilação à natureza resta apenas o enrijecimento compulsivo.” ( Horkheimer e Adorno, 1986, p. 169 Apud. CROCHIK, 1995, p. 24).
De acordo com o autor, toda cultura que exija sacrifícios individuais para a sua manutenção necessita da ideologia para se perpetuar. Dessa forma, a ideologia afirma que somos cidadãos e, portanto, temos todos os mesmos direitos sociais, econômicos, políticos e culturais. No entanto, isso não acontece de fato.
A função da ideologia é impedir-nos de pensar nas injustiças sociais e tornar-nos reprodutor dos estereótipos. Com isso, a ideologia nos torna re-acionários.
Neste sentido, a proposta da educação que visa, de alguma forma, à constituição do individuo por meio da introjeção de valores ou ideais, sem que eles possam ser refletidos, é favorável à criação de um mecanismo psíquico que o mantém num estagio de menoridade social.
Quando as ciências sociais e humanas se valem do mesmo método da ciência da natureza, não se distingue do mecanismo do preconceituoso. As ciências sociais ao tornarem natural o seu objeto perderam a sua verdade.
Conforme o autor a verdadeira revolução capaz de extinguir o preconceito é a possibilidade da autonomia da razão, pois se assim não for, novos preconceitos justamente como os antigos, servirão de rédeas à grande massa destituída de pensamento.
As diversas maneiras de explicar o mundo são dependentes das relações de produção e, além disso, adquirem a função social de encobrir a realidade tal como é e justificar aquela que existe como aparência.
As explicações racionais e assim o uso da razão nos remetem para além da necessidade de autoconservação. Mas do que isso remete a razão para a realização da natureza humana, a priori, conflituosa.
A razão, para o conhecimento, é um instrumental que permite investigar o objeto, para se estruturar uma sociedade, a razão deveria ser um de seus pressupostos.
O homem se define pela relação entre cultura e natureza, desconhecer a natureza humana, nos seus conflitos entre desejos e proibições, é estar negando a base do mal- estar na civilização e colaborar com a situação que estar o mundo.
Assim, o preconceito oriundo da esfera cultural, expresso na ideologia, é a justificativa da dominação da cultura sobre o individuo em suas diversas figuras: a religião, a filosofia, e se pudesse ser reduzido a uma frase, poderia se dizer que é um elemento que conforma o individuo à cultura, o que seria expressão de uma sociedade totalitária. Toda cultura que exija sacrifícios individuais para a sua manutenção, quando ela própria não se dirige para o bem-estar de seus indivíduos, e se estabeleça de forma independente dos interesses racionais de seus membros, encontra-se naquela definição, ou seja, necessita de ideologia para se perpetuar ( CROCHIK, 1995 p. 22)
Bibliografia:
José Leon Crochik.: Preconceito,Indivíduo e Cultura. In_ O Conceito de Preconceito. 2006, p. 06- 28.
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