sexta-feira, 22 de abril de 2011

A dimensão social da aprendizagem

            “ Não se pode ser verdadeiramente humano sem viver em uma sociedade” , ao fazer essa afirmativa, GONZÀLEZ, F. e JESÙS, L. no livro Caderno de Antropologia da Educação vol.3, fomenta a importância do eu e do nós. O eu, que é o individuo, tem suas necessidades, as quais de certa forma, o força a buscar por coisas que possam preenchê-lo nos outros. Logo a importância do individualismo, porque o eu só vai procurar o outro quando pensar em si primeiro, e isso o leva a uma busca que  vai inseri-lo na sociedade, e essa vivência social  o torna  um ser original, completo, único.

         O individuo é inserido e humanizado na cultura através da educação, ou seja, aprende os valores, a colaborar, a ser sócio, e toda essa relação do eu com o nós acontece por meio do diálogo ou da dialética.

          Quando nascemos, somos inseridos nessa sociedade com regras e leis já pré- estabelecidas, onde somos impelidos a instaurar relações sociais, criar saberes, valores e modelos de comportamento para que assim possamos nos relacionar e viver nessa sociedade. Conforme afirma a seguir Durkheim:

Quando nascemos, diz Durkheim, encontramos todo um sistema de crenças, normas e valores já constituído ao qual devemos ser incorporados através da educação. Por isso, ele afirma que a sociedade exerce uma coerção sobre os indivíduos. A educação é uma das formas de exercício da dessa coerção, porque toda atividade pedagógica supõe um esforço de permitir aos indivíduos internalizarem algo já constituído. A língua, as leis, as normas da convivência coletiva precedem ao nascimento do individuo(p.53) 

        No entanto, o processo de humanização não tem se revelado como algo progressivo. Todo o conhecimento adquirido deveria ser assumido e melhorado de forma apropriada pelos novos sujeitos da ação, mas o desejo de dominação, o egoísmo e  a hipervalorização do  econômico estão sendo colocados sobre outras dimensões humanas, levando a uma direção que   aprofunda um modelo de conhecimento o qual   contribui para criar uma  sociedade cruel, excludente e violenta.

        Esse modelo de conhecimento que usa, que explora, que não respeita,  é o modelo do colonizador, que explorou  os índios, escravizou os africanos. Vamos pensar na revolução industrial que mudou radicalmente a vida dos camponeses e dos artesãos  tirando suas terras,  seu trabalho e, portanto, os obrigando a trabalhar em condições precárias e desumanas  nas fábricas.

         O trabalho deveria criar comunidade e a colaboração no esforço por construir uma sociedade solidária, entretanto a competitividade feroz e irracional da nossa sociedade corrói o desejo de compartir e ainda exclui quem não tem esse desejo de acumular.

        Nossa sociedade vive uma inversão de valores. A educação, que é adquirida na família, na escola e nas diversas relações de sociabilidade, mudou o foco. Não há o objetivo de  humanizar o homem e sim em materializar. A educação atual apresenta a finalidade exclusiva à transmissão de conhecimentos científicos, a especialização,a castração de talentos, à divisão de trabalho e a manter a divisão  de classes. 

        Além disso, os meios de comunicação estão à serviço do poder, bloqueando e contaminando as consciências e, com isso, incapacitando o homem para a reflexão social e desviando a atenção dos verdadeiros interesses pessoais. Tornam-nos cada vez mais materialista. Estão colocando o material acima do homem. As pessoas deixam de viver suas vidas para viver a dos personagens das novelas, esquecendo assim o quanto são exploradas pelo patrão, trabalhando demais sem ter tempo para cuidar dos filhos ou estudar e ganhando, para isso, o mínimo que um ser humano precisa para viver. Logo a maior função do meio de comunicação e incentivar o comodismo diante das diferenças sociais, diante da corrupção.

       Nossa sociedade é classista. Regras e leis  valem para poucos Está  cheia de privilégios para os fardados, para quem tem “status” e para os políticos. Não vamos esquecer do nepotismo que impede o concursando de ser convocado para o cargo ao qual foi aprovado.

        A escola, muitas vezes, serve de colaboradora para esse modelo de sociedade, quando exerce como função apenas os ensinamentos dos conhecimentos científicos e quando não se interessa em formar bons indivíduos.

        Estamos em um ponto de total falta de respeito humano, quando não é o professor que é agredido é o aluno. Não há respeito, ética, amor ou companheirismo entre as pessoas.

       Provavelmente, o período de 46 á 64 foi  época  em que a educação brasileira tenha sido fértil. Neste período  atuaram grandes educadores como Paulo Freire. Pensava-se em erradicar o analfabetismo, criaram varias universidades. Professores e alunos lutaram para uma boa educação. Mas depois de golpe militar de 64 os educando foram perseguidos, outros calados e outros exilados. Como afirma CHIAVENATO:

... Procurou-se evidenciar que a política do governo militar empenhou-se na destruição cultural das forças que poderiam resistir à barbárie. Ao se impor pela força, adotando um modelo conseqüente e coerente com a Doutrina de Segurança Nacional, a ditadura mostrou a sua verdadeira natureza em termos culturais. E cumpriu a ‘profecia’ do comandante da invasão da UnB, coronel Darci Lázaro: ‘Se essa história de cultura vai nos atrapalhar a endireitar o Brasil, vamos acabar com a cultura durante trinta anos’. (CHIAVENATO, 2004, p.149). 

       O regime militar espelhou na educação o caráter anti-democrático, professores e alunos foram presos, feridos em confrontos com a polícia, muitos foram mortos. A União Nacional dos Estudantes foi proibida de funcionar com o Decreto-Lei 477. A luta dos professores e estudantes foi chamada pelo Ministério da Justiça de baderna. E foi nesse período da ditadura, em 1971,  que a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi reformulada. O  que mais marca essa leia é que ela deu a formação educacional um cunho profissionalizante, pois com esta lei planejava-se  que a educação contribuísse de forma decisiva para o aumento da produção brasileira. Até mesmo as disciplinas humanistas foram tiradas dos bancos escolares.

        A educação volta-se para a aquisição de competências especificas de acordo com a necessidade do mercado:

... Se pautou em termos educacionais pela repressão, privatização do ensino, exclusão de boa parcela dos setores mais pobres do ensino elementar de boa qualidade, institucionalização do ensino profissionalizante na rede pública regular sem qualquer arranjo prévio para tal feito, divulgação de uma pedagogia calcada em técnicas... e não raro confusa legislação educacional.... (HAIDAR & TANURI, 2002, p.59-60).

         Nas sociedades capitalistas, a instituição educativa, , centra-se em reproduzir a sociedade classista e em reafirmar os privilégios dos mais favorecidos. A escola está desvinculada dos movimentos sociais, dessa forma, ao esconder a exploração das classes menos favorecidas, a educação contribui para a manutenção da ordem estabelecida pelos detentores do poder.

        Para concluir essa afirmativa, Moacir Gadotti (2003) fala em, seu livro Educação e Poder, a cerca do poder da educação na sociedade:

Isso significa que, hoje, um dos maiores obstáculos à conscientização é a própria educação, o próprio sistema escolar, funcionando como aparelho ideológico de ocultação da consciência. Assim, para educar ( conscientizar) é preciso lutar contra a educação, contra a educação dominante que é a educação do colonizador. (GADOTTI, M, 2003, p.33) 

       A construção de uma sociedade autêntica, humana e a realização pessoal exige o combate ao egoísmo, a luta contra as estruturas sociais injustas. O desenvolvimento científico, tecnológico e econômico sem ética não garante o progresso, nem o desenvolvimento social.


Lana Santos

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